perdoar,
baixar a guarda, deitar fora o que não presta, condescender, seguir em frente,
amadurecer. Se fôssemos todos exactamente iguais, nada haveria de
genuinamente
desafiante na descoberta do outro, na modelagem de
personalidades que se propõem levar a
vida juntas. Isto a propósito do velho
tema: amuar. Quem amua, arranja, descubro-o agora,
motivos para amuar até
quando os não há. Faz esforços desmedidos, por amor, e consegue
vencer a
tentação de prender o burro, às vezes, semanas ou até meses a fio. Cria no
outro a
expectativa de que já passou, não volta a acontecer. Mas a verdade
é que acontece. Acontece
sempre. E então, quando voltamos ao amuo, só há
um caminho possível: esperar que passe.
Somos todos tão diferentes. Desta
vez, quase podia jurar, se houvesse motivos para amuos,
eram meus. Mas eu, bem,
eu não sei mesmo amuar. Podia tentar aprender, mas não me
apetece. Com o
tempo, a vagar, venho aprendendo que devo ocupar-me apenas do que me
fizer
melhor ou do que fizer feliz alguém. É por isso que agora ele amua e eu, simplesmente,
espero que passe. Vou tentar aprender a fazer isto para sempre. Sei que ele
vai esforçar-se
muito por amuar menos. E as coisas assim, enfim, fazem
mais sentido. Não se muda
ninguém. Vamos só escolhendo, os dois, a melhor
maneira de fazer o outro mais feliz.
Acho mesmo que faz mais sentido. Ele
podia precisar, por exemplo, de matar ou roubar
de vez em quando. Não é o
caso. Precisa só de amuar. Eu, por exemplo, preciso de ter
crises de
choro...(..)."